Não sei como explicar, mas eles caminhavam.
Levantaram
pela manhã, com seus olhos sem vida, invadiram as ruas caminhando numa
estranha profusão de padrões. Pareciam formigas guiadas por alguma
espécie de Deus sádico.
Mas eles caminhavam.
Não
pensavam, não sentiam, não olhavam para os lados. Quem visse de perto,
poderia notar alguma espécie de comunicação saindo de suas órbitas
morimbundas.
Mas, mesmo assim, eles caminhavam.
Uma
turba silenciosa e organizada, apenas preocupada em seguir seus
instintos mais básicos, como a fome. Alguns ficavam agressivos no menor
sinal de provocação e, em outros, a apatia era tudo o que dominava.
Apesar de tudo, eles ainda caminhavam.
E
o que mais pareceria uma cena de fim dos tempos, no fim das contas, se
torna dia-a-dia. E existe pior forma de ser um cadáver ambulante do que
não viver pelo que se deseja?
No fim das contas, eles apenas caminhavam.